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Contra-terrorismo calculado: a estratégia de Israel


Israel Contra-terrorismo

Nos últimos anos, a região ao Leste do Mediterrâneo tem se mostrado conflitante e com agravados dilemas de segurança entre os Estados regionais. Em questões militares, Israel tem trabalhado ativamente com tropas e unidades especiais em suas fronteiras, enquanto Estados rivais como a República Árabe Síria ou a República Islâmica do Irã também têm incentivado atividades bélicas e contestatórias na fronteira de Israel, por meio das Colinas de Golã. Porém, ambos sob a lógica de estratégias dissuasivas mútuas. Esse quadro de relações regionais ajuda a explicar os motivos principais do apoio de Israel às sanções contra Irã, as quais se baseiam nas alegações israelenses, que já duram anos, da relação iraniana com o suporte de grupos considerados terroristas. Além disso, revigoraram as denúncias de que o Irã nunca abandonou realmente seus programas de pesquisas nucleares com fins militares, argumento defendido tanto pelo presidente Donald Trump quanto pelo premier israelense Benjamin Netanyahu.


Os governos estadunidense e israelense atuais têm preocupações e formas de atuar em política externa bastante próximas. Além da busca por celeridade e resultados, muitas vezes, ambos procuram impor sansões àqueles que são abertamente contrários aos seus interesses de segurança nacional. Atuação esta que vem se tornando comum nesse final de década. A diplomacia clássica, no sentido de trabalhar calmamente, com propostas definidas e colaborativas, está sendo substituída por resultados rápidos e imediatos. Esse argumento pode ser confirmado pela atitude de Trump em não ter criado medidas práticas no acordo de desnuclearização com a Coréia do Norte, realizada em Singapura. Também, dentro dessa lógica, pode-se argumentar que a estratégia de contra-terrorismo adotada por Israel pode sim afrontar com certo sucesso ameaças contingentes dos grupos considerados como terroristas, mas carece de uma proposta de mediano ou longo prazo para erradicá-los de forma definitiva.


Historicamente, as forças armadas de Israel têm adotado uma estratégia de ação preventiva, ainda que isso implique na violação de barreiras e contratos internacionais. Exemplo disso foi a Guerra dos Seis Dias (1967), que, em uma incursão estrategicamente brilhante por parte de Israel, presumiu as ações que o Egito tomaria, garantindo uma vitória rápida e esmagadora. Desde então, essa política se tornou um componente importante da cultura estratégica das forças armadas israelenses, e mesmo não tendo agido sempre de forma defensiva e preventiva, o Estado em questão passou a ter a tendência de levar a informação militar como algo muito importante. Vale ressaltar que mesmo a informação sendo importante houveram instâncias em que Israel escolheu não agir preventivamente, como quando foi invadida na Guerra de Yom Kippur em 1973, enquanto as Forças Armadas atentavam que um ataque estava por vir, a Primeira-ministra Golda Meir proibiu qualquer incursão, e Israel foi atacado ao norte e ao sul. Entretanto esse caso só reafirma o grande papel que a inteligência israelense tem ao conseguir prever e propor ataques de defesa preventiva, mesmo que o líder em questão possa escolher ignorar as sugestões militares.


Observa-se, também, que Israel adota uma política de não-desistência, o que eleva o patriotismo nacional e a capacidade israelense de resolver conflitos. Junto disso, encontra-se a tendência do Estado em dar prioridade às redes de informações porque, caso Israel tivesse conhecimento de todas as intenções ofensivas dos membros da República Árabe Unida (R.A.U) durante os acontecimentos da Guerra dos Seis Dias, poderia ter prevenido a situação antes da escalada do conflito. Tal pensamento guia a procura de Israel em melhorar seu setor de segurança cibernética. Não é coincidência que uma das áreas mais desenvolvidas, no Estado, é o setor tecnológico. O investimento tecnológico nas forças armadas, no serviço de inteligência e no serviço de política pública são marcas características que permeiam, inclusive, sua estratégia de contra-terrorismo.


A estratégia de contra-terrorismo atual de Israel tem se baseado em promover ataques pontuais contra líderes terroristas. Em seu sistema de contra-terrorismo são utilizados ataques preventivos, recolhimento de informação detalhada e impedimento de infiltrados terroristas palestinos dentro de território israelense. Israel também possui um avançado sistema de míssil antibalístico, chamado de Cúpula de Ferro, conseguindo destruir mísseis atirados contra Israel, numa porcentagem incrível de 90% de sucesso.


Devido à natureza controversa e mutável do terrorismo, a estratégia israelense foca em prevenir todos os possíveis ataques e caminhos que uma organização terrorista ou indivíduo subalterno possa tentar atingir, como mercados públicos, aeroportos, restaurantes, etc. Com isso, chega-se a aproximadamente 85% de prevenção contra ataques de terroristas suicidas. Mais exemplos da estratégia israelense podem ser observados nos casos da bomba detonada contra Salah Shihada – líder e fundador da ala militar do Hamas "Izz ad Din al Qassam" –, ou em novembro de 2000, em um ataque ao carro do líder Tanzim Husayn'Abayat, utilizando-se de um míssil teleguiado, demonstrando a sua tendência a atacar líderes específicos e desestabilizar movimentos subalternos. São considerados movimentos subalternos toda incitação de cunho político, ideológico, ou militar que tenha em vista ataques ao Estado ou povo israelense, inclusos aqui ideologias, protestos e ataques diretos. Tais ataques da força israelense só aconteceram de forma esporádica, quando a situação estava prestes a sair do controle.


O elevado número de ataques e diferentes frontes que o Estado enfrenta, combinado com o alto desenvolvimento da tecnologia e estratégias utilizadas, exigem de Israel um alto custo de manutenção de estratégias efetivas, tendo gastado mais de 15,5 bilhões de dólares em 2017. Essa estratégia do país contra o terrorismo provavelmente não se alterará no curto ou mediano prazo. Mesmo agindo ativamente contra ataques em seu território, Israel continua apresentando a mesma ideologia militar e protecionista frente a adversidades terroristas. Prova disso é a lei antiterror promulgada em 2010 pelo ministro da justiça Yaakov Neeman, que descreveu a atividade terrorista como algo a ser prevenido, e não erradicado.


Dentro dessa prevenção constante, Israel caminhou para uma ação normalmente denominada de terrorismo estatal. Terrorismo estatal é uma forma de se enxergar as ações que um Estado tem quando age contra um determinado povo ou contra outro Estado, infringindo direitos humanos. Exemplo disso são as denúncias existentes de abusos praticados por Israel em localidades como Gaza e Cisjordânia, usando sua força e legitimidade como Estado hegemônico para reagir a protestos civis mais agressivos e controlar com maior repressão policial áreas de população palestina e em protestos descontentes com o governo, criando medo, insegurança e pânico na população local. Israel já foi acusada de tais atos por organizações como “Breaking the Silence”, uma organização formada de ex-veteranos de guerra israelense que serviram e decidiram compartilhar suas histórias, e pelo ganhador argentino do prêmio nobel da paz Adolfo Pérez Esquivel. A maior repressão frente aos protestos, repressão essa estimulada pela forma como Israel enxerga a sua estratégia contra-terrorismo, acabam por incentivar populações palestinas e Estados simpatizantes aos movimentos terroristas a aderirem a causa de tais grupos ilegais e agressivos.


Essa é a diferença e o problema central. A prevenção como estratégia dificilmente levará ao fim da ameaça e da violência. O problema estratégico israelense, então, baseia-se na carência de uma estratégia efetiva e concertada entre os seus líderes, para eliminar essa ameaça à segurança nacional.


Dentro de uma visão militarista e ofensiva, seria possível combater essas ameaças com emprego da força maciça e tecnologia mais avançada, e que poderia levar, no longo prazo, a uma erradicação violenta de grupos terroristas e expansão da influência estatal em seus territórios e localidades, promovendo um Estado verdadeiramente democrático. Entretanto, seguir esse caminho quebraria o delicado equilíbrio que o Estado israelense conseguiu construir para a sua segurança. Para Israel promover sua segurança e legitimidade estatal, interna e externamente, é necessária uma balança entre a demonstração de capacidade real de combate a grupos terroristas, e por outro lado, evitar atos desproporcionados que derivem em genocídio e graves crimes frente ao palco da comunidade internacional. Colocar a ideia de uma balança na análise é também uma maneira de buscar explicar por que Israel tem optado pela “estratégia de contra-terrorismo calculada” para lidar com o fator segurança na região. Outra resposta para essa pergunta que as ações estatais mostrariam é que Israel se sente constrangido por alguns atores no cenário internacional, no sentido de que é recomendado por tais atores a não agir de forma ainda mais agressiva e violenta.


Em definitiva, as ações da inteligência israelense contra o terrorismo até os dias de hoje têm mostrado a tendência de serem preventivas e reativas, como respostas a um perigo imediato, mas carecendo de uma resposta explícita pensada no longo prazo que permita alcançar uma solução para a segurança da nação e dos cidadãos israelenses. Por enquanto a estratégia funciona, mas o equilíbrio necessário que Israel tem que ter em suas atividades perante o cenário internacional, combinado com a incrível demanda de recursos econômicos exigidos por tais estratégias atuais, dificilmente garantirá a Israel uma segurança no longo prazo.


Imagem: Unidade de Contra-Terrorismo de Israel durante treinamento. Por: Israel Defense Forces.


Guilherme Henrique Pinto é graduando em Relações Internacionais pela Unesp-Franca.



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