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A caminhada de Israel à direita: política externa e segurança sob a luz do novo espectro político



É do conhecimento geral que várias partes do Oriente Médio estão em crise e que há grandes tensões entre os Estados Unidos e um dos seus aliados cruciais na região, Israel. Menos comumente abordadas são as profundas mudanças pelas quais Israel propriamente dito está passando.


Em aspectos importantes, o país já não se assemelha à imagem ocidental ainda idealizada do Estado sionista liberal de David Ben-Gurion, Abba Eban, Golda Meir e Yitzhak Rabin. A elite asquenazi (judeus provenientes da Europa central e oriental) socialista que costumava dominar a política de Israel há muito tempo já não está mais no poder. Os judeus Sefarditas (judeus provenientes da Península Ibérica), imigrantes soviéticos, os colonos defensores da expansão dos assentamentos na Cisjordânia, a direita religiosa, os judeus seculares e os árabes israelenses agora competem por influência. Na política externa, entretanto, o que Israel representa, e quais são seus aliados, estão em jogo.


Podemos dizer que as mudanças na política externa e em segurança despontavam já em 1977, quando pela primeira vez o partido Likud ascendia ao poder em Israel. Na época, o partido adotou como expressão oficial quando se referiam ao país como Eretz Yisrael, termo que remete a toda porção geográfica compreendida por Israel e os Territórios Palestinos, e não mais Estado de Israel. Entretanto, o partido ainda era considerado de centro-direita.


As mudanças mais significativas podem ser observadas a partir de 2009, quando Benjamin Netanyahu assume o governo após dez anos de sua primeira passagem na liderança do partido Likud e do parlamento israelense. Para explorar este novo cenário, o que emerge é um retrato de um país que goza de um raro momento de relativa paz com a maioria de seus vizinhos, ao mesmo tempo que experimenta a intensificação dos conflitos internos, com uma guinada do governo para a extrema direita. Podemos considera-lo de extrema direita em política externa devido às alianças partidárias que o Likud realizou desde 2009, principalmente com partidos religiosos de direita e pela posição agressiva em relação aos palestinos dos Territórios Ocupados, além da expansão intensa dos assentamentos.


Aluf Benn, editor-chefe do jornal Haaretz, descreve a transformação de Israel através da história da longa carreira do Primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Moderada quando as circunstâncias exigiam, Netanyahu agora lidera o governo mais direitista da história de Israel, que Benn argumenta estar permitindo que Netanyahu realize seu sonho de longa data: substituir a elite moderada e secular do país por uma nova elite linha-dura e religiosa.


Por outro lado, nos últimos anos, a liderança militar de Israel pareceu ser mais moderada do que o governo do Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. De 2009 a 2012, por exemplo, o alto escalão das Força Armadas (IDF) ajudou a bloquear o plano do governo de Netanyahu para atacar instalações nucleares do Irã, e em 2015, o Chefe de Gabinete da IDF, Gadi Eisenkot, repudiou publicamente a condenação sem reservas de Netanyahu ao acordo assinado pelo Irã e seis grandes potências de forma a limitar as atividades nucleares iranianas.


Os líderes da IDF também parecem mais contidos do que políticos israelenses quando se trata da gestão das relações entre israelenses e palestinos. Assim, após a última guerra entre o Hamas e Israel, em 2014, os líderes das Forças Armadas pressionaram seus supervisores civis para afrouxar o bloqueio à Faixa de Gaza, aliviando a pressão sobre a população do território e reduzindo as chances de um novo conflito. E foi a IDF, e não o governo de Netanyahu, que primeiro propôs que a Autoridade Palestina recuperasse a responsabilidade pela segurança em algumas partes da Cisjordânia anteriormente policiadas por Israel.


A divisão mais recente entre os líderes civis e militares de Israel diz respeito a como lidar com a última erupção de violência entre israelenses e palestinos. No final de 2015, alguns jovens palestinos começaram a realizar ataques contra civis e soldados israelenses, resultando em mais de 30 mortes. As forças de segurança israelenses responderam com violência, realizando centenas de operações de detenção na Cisjordânia a cada mês e matando cerca de 200 palestinos até agora. Mas alguns políticos de direita queriam intensificar a resposta ainda mais e pressionaram a IDF para afrouxar suas regras de engajamento e usar mais força contra suspeitos, o qual as Forças Armadas recusaram.


Fica claro que esta inclinação à direita politicamente em Israel exacerba questões em política externa e em segurança, estremeceu as relações com os Estados Unidos e intensificou o conflito com a Palestina. Não podemos esperar muitos avanços em relação à paz enquanto o atual governo continuar no poder e, internamente, é possível que vejamos mais conflitos entre os diversos grupos que hoje disputam o poder. Israelenses em desacordo uns com os outros não é novidade. Mas a amargura das lutas de hoje destaca a profundidade das mudanças e escolhas enfrentadas pelo país.


Karina Stange Calandrin é mestranda em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisadora do GEDES.


Imagem: 12.ProPalestine.Netanyahu.WDC.7April1997. Por: Elvert Barnes.

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