A Suspensão das Negociações de Paz na Síria
O ano de 2016 começou com uma esperança acanhada, teimosa, e breve sobre o processo de paz na Síria. A nova rodada de negociações iniciada ao final de janeiro mal adentrou fevereiro: foi suspensa no terceiro dia do mês. Dias após seu início, os diálogos foram perturbados pelo ataque do Estado Islâmico na cidade de Damasco, no dia 31 de janeiro. O atentado, perpetrado por homens-bomba, deixou 60 feridos.
Não obstante a evidente interferência das ações do EI, o processo já se encontrava fragilizado. O ponto focal das negociações era estabelecer, em um primeiro momento, um acordo de cessar-fogo e a criação de zonas neutras para o envio de alívio humanitário. Contudo, há uma profunda desconfiança por parte dos grupos opositores em relação a um eventual cessar-fogo. Segundo eles, esses acordos só funcionaram no passado quando favoreciam de alguma maneira o regime. Em zonas onde a oposição possuía desvantagem militar, Assad não hesitou em quebrar a suspensão dos ataques. Outro problema é a percepção por parte de alguns grupos opositores de que um acordo de cessar-fogo possa desmobilizar parte de suas tropas. Desse modo, uma interrupção nos combates favoreceria o regime e as posições militares russas. À vista disso, a apresentação de uma solução política torna-se urgente.
A desconfiança mútua entre as partes do conflito ressalta a necessidade de um envolvimento mais assertivo da Rússia e Irã nas negociações diplomáticas. Chamo a atenção para a crescente importância desses dois países nos processos de paz do Oriente Médio. Moscou, desde a anexação da Criméia em 2014, foi isolada diplomaticamente pelos países europeus e Estados Unidos. A despeito das tentativas ocidentais, Putin atualmente tem lugar reservado à mesa de negociações sobre a Síria. Teerã, não somente exerce forte influência sobre os resultados na Síria, como também é peça central para a resolução do conflito no Iêmen. Sem dúvida, os trabalhos de Steffan de Mistura, emissário da Nações Unidas designado ao trabalho sisífico de coordenar os diálogos, se concentrará em grande parte no engajamento desses dois países no processo.
Diego Lopes da Silva é doutorando em Relações Internacionais no Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisador do GEDES.