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Em que medida o rompimento das relações entre Riad e Teerã complica as coisas no Oriente Médio?

Muito. Apesar do estopim ter sido a execução do Sheikh Nimr Baqr al-Nimr pela monarquia saudita, as relações entre Riad e Teerã já acumulavam há algum tempo uma tensão política que não mostrava sinais de arrefecimento. De modo mais marcado, a oposição entre os países manifestou-se desde o princípio da atual crise política no Iêmen. Em setembro de 2014, rebeldes xiitas da etnia Houthi insurgiram-se contra o governo de Abed Rabbo Mansour Hadi e tomaram a capital do país, Sana’a. A expansão da insurgência era percebida como uma ameaça aos interesses geopolíticos sauditas, uma vez que os Houthis são apoiados por Teerã. Em contenção, Riad iniciou em março de 2015 uma violenta campanha aérea para restaurar o governo de Hadi. Das quase seis mil pessoas mortas no conflito até o momento, metade eram civis. Os deslocados internos já somam dois milhões. As negociações de paz, encabeçadas pelas Nações Unidas, estão travadas desde março de 2015. Uma retomada está prevista para o dia 14 de janeiro de 2016. Contudo, o rompimento das relações diplomáticas entre Irã e Arábia Saudita coloca em xeque as perspectivas de successo.


As agudas divergências entre os dois países ameaçam ainda as negociações na Síria. Ao longo do mês de janeiro, Staffan de Mistura, mediador apontado pelas Nações Unidas para o conflito sírio, tentará arquitetar o início dos diálogos entre o regime de Assad e a oposição. Porém, a retirada dos embaixadores sauditas do Irã muda a atmosfera política. É bem possível que Riad tome uma postura mais incisiva contra a manutenção de Assad no governo, uma vez que seu regime alawita é aliado de Teerã. As divisões políticas regionais, muito provavelmente, também se aprofundarão com o rompimento entre sauditas e iranianos. Bahrain, Sudão e Emirados Árabes Unidos já se manifestaram contra os ataques as embaixadas sauditas no Irã. Os países, assim como a Arábia Saudita, já vêm há algum tempo desgastando suas relações com Teerã e o acusando de ser intervencionista. O Bahrain, por exemplo, pediu o retorno de seu embaixador no Irã em outubro do ano passado após acusar o país de enviar armamentos ao seu território.


Em suma, o rompimento entre Riad e Teerã complica, e muito, o avanço dos processos de paz na Síria e Iêmen, além de perpetuar a instabilidade regional como um todo. Se o desligamento das relações diplomáticas permanecer, as negociações de paz perderão energia, uma vez que será necessário um esforço intenso para que os dois países cheguem em um consenso. Como se não bastasse, ainda temos que questionar sobre as repercussões do rompimento entre as potências extrarregionais. Estados Unidos e Rússia, países centrais nas negociações na Síria, têm preferências claras em relação a Riad e Teerã. Será interessante ver como Washington, aliado dos sauditas mas com interesses particulares no Irã, procederá. A ver.


Diego Lopes da Silva é doutorando em Relações Internacionais no Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisador do GEDES.

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