Três minutos para o Fim do Mundo
Quanto tempo falta para o fim do mundo? Segundo o Comitê de Ciência e Segurança da organização Bulletin of the Atomic Scientists (BAS), faltam (metaforicamente, que fique claro!) apenas 3 minutos.
O Relógio do Fim do Mundo (Doomsday Clock) oferece, há 70 anos, uma representação simbólica de quão próxima a humanidade está da Meia-Noite, ou seja, de um evento de proporções tão devastadoras, que a civilização seria fundamentalmente ameaçada. E este ano, assim como em 2015, o ponteiro marcou 23:57 (o mais próximo que a humanidade já esteve do Fim, com exceção de 1953, após os testes das primeiras bombas de hidrogênio pelas superpotências, durante a Guerra Fria).
O Relógio foi criado pelo BAS – uma organização idealizada por cientistas que participaram do Projeto Manhattan e foram acometidos pelo peso da responsabilidade – como uma forma de, ao menos uma vez por ano, instigar o debate sobre as consequências da difusão de armamentos nucleares e de uma possível escalada militar. Inicialmente focado na possibilidade de uma catástrofe atômica, desde 2007 o BAS passou a considerar também o impacto de outros elementos sobre a sobrevivência da humanidade, dando atenção particular para as mudanças climáticas.
Este ano, parece que a organização conseguiu, minimamente, atingir seu objetivo de atrair atenção para o Relógio: o BAS permaneceu entre os trending topics do Twitter e do Facebook durante dias. Isso contribui, sem dúvida, para o florescimento do debate sobre os temas caros aos membros do BAS, ainda que não necessariamente leve à geração de consensos.
De fato, quando o anúncio da manutenção do horário foi realizado, no dia 26 de janeiro, houve manifestações variadas de surpresa. Por um lado, otimistas mencionaram importantes avanços diplomáticos alcançados ao longo de 2015, incluindo o Plano Compreensivo de Ação Conjunta, assinado pelo Irã em julho, e o Acordo Climático de Paris, assinado por 195 países em dezembro. Por outro lado, pessimistas apontaram o mais recente teste nuclear da Coreia do Norte, os elevados investimentos planejados para a modernização dos arsenais nucleares dos Estados Unidos e da Rússia, o aumento das tensões no Leste Europeu e no Pacífico e os indicadores pouco promissores sobre a contenção do aquecimento global.
Parece, então, que foi uma decisão acertada (e cautelosa) por parte do Comitê de Ciência e Segurança não fazer uma alteração no horário marcado pelo Relógio. Houve motivos para regozijo e esperança, no último ano. Mas ainda há muitos motivos para preocupação. E, para os mais desesperados, fica a nota final em tom de alerta: nós (ainda) temos 3 minutos para salvar o mundo.
Raquel Gontijo é doutoranda em Relações Internacionais no Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisadora do GEDES.
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