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A questão dos refugiados na Alemanha: acolhimento ou segregação?

No dia 12 de janeiro, o governo alemão anunciou que refugiados condenados por crimes sexuais ou outros crimes graves poderão ser expulsos do país. A decisão foi tomada dias após serem registradas diversas queixas de que homens identificados apenas como sendo “de origem estrangeira” teriam assediado mulheres e cometido furtos durante as comemorações de Ano Novo na cidade de Colônia. Como resposta aos ataques às mulheres, o grupo Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente (Pegida)[1] promoveu protestos contra o acolhimento de refugiados.


Se, por um lado, a Alemanha tem aberto suas fronteiras a estrangeiros – a chanceler alemã, Angela Merkel, anunciou que receberia cerca de 800 mil refugiados em 2015 –, por outro lado, o governo tem que lidar com manifestações da extrema direita que criticam a maior abertura do país. Em novembro de 2015, em Berlim, apoiadores do partido Alternativa para a Alemanha (AfD)[2] e do Pegida protestaram contra a política de refugiados, com críticas explícitas ao governo de Merkel. O ano de 2015 também foi marcado por ataques a abrigos de refugiados. Assim, o desafio do governo alemão é receber os imigrantes, desenvolver uma política migratória eficaz, aproveitar todo o potencial de mão-de-obra que eles oferecem e, ao mesmo tempo, conter as manifestações da extrema direita e demonstrações descontroladas de ódio.


Nesse cenário, a medida anunciada no dia 12 é uma resposta aos setores mais conservadores que exigem medidas efetivas de controle dos refugiados e proteção da população alemã. Com efeito, as ações cometidas por algumas pessoas na cidade de Colônia foram graves e, como tal, exigem que os envolvidos nos crimes sejam responsabilizados e punidos. Entretanto, ao colocar foco sobre essas ações, se estabelece uma rivalidade entre a população de refugiados e os cidadãos alemães, como se estivessem de lados necessariamente opostos e como se não pudessem conviver pacificamente, o que é uma concepção errônea. Além disso, essa medida faz com que toda uma população de refugiados sofra a consequência por atos isolados cometidos por algumas pessoas “de origem estrangeira”. Os refugiados sírios em Colônia chamaram a atenção para esse fato ao organizarem manifestações contra o sexismo, o racismo e agradecendo a Alemanha por recebê-los. Em Berlim, refugiados distribuíram flores para enfatizar que são contra agressões às mulheres. A intenção é mostrar que existe uma distinção entre os homens que cometeram os delitos e os demais refugiados e que, portanto, ser refugiado não é o mesmo que ser criminoso.


Se engana quem pensa que essa é uma questão que só a Alemanha enfrenta. Aqueles países europeus que estão recebendo cada vez mais refugiados também correm o risco de buscar na segregação a resposta para lidar com um número crescente de imigrantes.

[1] O Pegida foi criado em 2014 e vem ganhando cada vez mais popularidade na Alemanha, promovendo marchas contra a influência do Islã na Europa e a favor da identidade cultural do Ocidente.

[2] O AfD é um partido político fundado em 2013 que tem convocado manifestações anit-imigração.


Giovanna Ayres Arantes de Paiva é mestranda em Relações Internacionais no Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisadora do GEDES.

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