O que o atual conflito entre sunitas e xiitas no Oriente Médio significa para o conflito árabe-israe
A Arábia Saudita começou o ano com a execução em massa de 47 prisioneiros, alguns foram decapitados e outros morto por pelotão de fuzilamento. Desses 47, quatro eram prisioneiros xiitas, incluindo um clérigo, Nimr al-Nimr, que se tornou um símbolo para grupos xiitas na Província Oriental e em toda a região desde antes do aumento dos protestos durante a chamada "Primavera Árabe" em 2011.
O anúncio das execuções, feito em 2 de janeiro, deu início a uma série de eventos que tem aumentado as tensões entre sunitas e xiitas em toda a região do Oriente Médio e para além dela. Eventos que já foram abordados aqui mesmo no Eris.
Mas a disputa diplomática atual vai além de ataques velados, acusações, ameaças e demonstrações condenatórias. Pelo contrário, ela está enraizada na competição pelo poder regional, os esforços sauditas para reduzir influência iraniana. E subjacente a cada uma dessas questões está o elemento sectário.
A ameaça de conflito também é real. Além de ameaças contra a Arábia Saudita, as milícias apoiadas pelos iranianos têm, entre outros, como alvo elementos da oposição iraniana perto de Bagdá, ameaçando atacar a Turquia que se recusou a retirar as suas forças do norte do Iraque, e acredita-se ser responsável pelo sequestro de trabalhadores turcos em Bagdá em setembro de 2015, em um esforço para pressionar Ancara, em suas políticas na Síria. A Arábia Saudita também poderia estender um maior apoio a grupos separatistas árabes no oeste do Irã.
Enquanto isso, o governo israelense assiste tudo de camarote, já que o conflito intra muçulmano tem atraído toda a atenção da região, na sua maior parte, para longe de suas políticas atuais, polêmicas e controversas. O que seus líderes não parecem perceber, no entanto, é que esta situação não vai durar para sempre.
Mas Israel tem a oportunidade de uma vida. Sem a possibilidade de devolver as Colinas de Golã para a Síria atualmente, com o alto escalão sunita mais interessado na luta contra o Irã do que em criticar Israel, com os sunitas e xiitas atualmente com um conflito maior do que o conflito árabe-israelense, com a Autoridade Palestina apoiando a Arábia Saudita e não o Irã e com o governo egípcio trabalhando mais que Israel para destruir túneis de contrabando do Hamas. Este é o momento para Israel começar a pensar em um tratado de paz multilateral com seus vizinhos da região.
A atual escalada tem ajudado a melhorar relativamente a posição de Israel na região. Mas se o governo israelense realmente quer assegurar a sua sobrevivência, reverter a influência do Irã (e, por extensão, a do Hezbollah), e desafiando, assim, as duas ameaças mais graves para a segurança do Estado, Israel precisa perceber que tem um monte de parceiros dispostos nos Estados sunitas árabes que estão apenas esperando para Israel dar passos reais rumo a uma paz abrangente.
Karina Stange Calandrin é mestranda em Relações Internacionais no Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisadora do GEDES.
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