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2016: Menos experiências e mais sabedoria, por favor

2015 termina e os fogos que tradicionalmente celebram a virada não serão vistos em Bruxelas e Paris: o medo de novos atentados embotou o prazer da celebração.


Deixamos para trás um ano de medo e violência, de intolerância e competição. Janeiro começou com os atentados ao Charlie Hebdo, tragédia que teve um segundo ato, também em Paris, em 13 de novembro. Mas a comoção internacional motivada pelos ataques à Cidade Luz não nos deve tirar da memória os outros atentados, muito mais numerosos, realizados em países que sofrem diariamente com o extremismo traduzido em violência, países como o Iraque, o Afeganistão, e o Paquistão. Também não devemos esquecer dos atos terroristas, de natureza diferente, mas também devastadora, que têm lugar nos Estados Unidos, em uma sociedade afligida pelo excesso de tiroteios.


No Oriente Médio, a guerra contra o Estado Islâmico prosseguiu de forma intensa e pouco satisfatória. Os ataques aéreos se multiplicaram, abarcando grandes partes dos territórios iraquiano e sírio, e passando a contar com o engajamento da França (cuja motivação parece clara) e da Rússia (cuja motivação é mais turva).


Enfrentando problemas que ganham muito mais atenção quando se apresentam em países ricos, a região do Sahel, na África Subsaariana, viu o avanço do Boko Haram, que ganhou, em novembro, o status de grupo terrorista com maior número de mortes do mundo, segundo o Global Terrorism Index. Além da Nigéria, que esteve presente constantemente nas manchetes internacionais, o Boko Haram foi causa de desgraças no Níger, no Chade e no Camarões.


Os imigrantes (resultado de guerras e terrorismo, crises políticas e econômicas) perdendo suas casas, suas famílias, seus planos e suas vidas, ganharam a primeira página dos jornais. Políticas para lidar com o influxo de deslocados foram adiadas e improvisadas, estabelecidas e revogadas, elogiadas e criticadas.


No Pacífico, a China adotou uma postura beligerante frente a seus vizinhos, construiu ilhas e bases militares no meio do mar, instigou o Japão a rever sua política de defesa e colocou um novo problema para os Estados Unidos. Na Eurásia, Putin deu continuidade a seus planos para uma grande Rússia, protagonista internacional, abalou a segurança dos vizinhos europeus e recolocou um velho problema para os Estados Unidos.


Essas são apenas algumas das tragédias que marcaram o mundo em 2015, enquanto o Brasil tentava tropegamente resolver suas convulsões internas.


Mas nenhum ano traz apenas tristeza. Diante do terrorismo, vimos demonstrações de resiliência, como as imagens bem-humoradas do #BrusselsLockdown. Diante das enxurradas de refugiados, vimos demonstrações de empatia, generosidade e solidariedade, como o comboio de alemães e austríacos que cruzaram a fronteira da Hungria para oferecer carona aos imigrantes. Diante de disputas de poder e escaladas militares, vimos a diplomacia vencer desafios, como no acordo finalmente assinado pelo Irã para cessar suas atividades militares na área nuclear.


Afinal, fazer a escolha certa, seja na arena da grande política de poder entre os Estados, seja nos pequenos dilemas que qualquer pessoa enfrenta todos os dias, é frequentemente muito difícil. Como escreveu o brilhante Terry Pratchett, falecido em 2015: “A sabedoria vem da experiência. A experiência é amiúde resultado da falta de sabedoria”.


Eis os meus votos para o ano que começa: que as experiências, boas e ruins, de 2015 tragam mais sabedoria para o mundo.


Raquel Gontijo é doutoranda em Relações Internacionais no Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisadora do GEDES.

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