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Em caso de terrorismo... gatos!

Desde os atentados terroristas de 13 de novembro, em Paris, a Bélgica tem enfrentado uma elevação no nível de alerta em suas cidades. Em Bruxelas, onde foram realizadas 22 batidas policiais, apenas no último domingo, dia 22 de novembro, o clima de tensão é evidente. Escolas e universidades foram fechadas e o sistema de transporte público parou de funcionar no início da semana. A população foi instruída a permanecer em suas residências e evitar riscos. E sobretudo, as forças da Bélgica pediram à população que não divulgasse, na internet, informações sobre as batidas policias, o que poderia beneficiar os terroristas em fuga.


E foi então que a população de Bruxelas surpreendeu o mundo, ao reagir com bom humor a uma situação de temor e insegurança. Os cidadãos belgas inundaram as redes sociais com fotos de gatos, sob a hashtag #BrusselsLockdown. Essa iniciativa tinha por objetivo ocultar qualquer informação real sobre as batidas em uma profusão de posts bem-humorados, que iam desde fotos de gatos postadas por seus donos, até memes já antigos nas redes sociais. No dia seguinte às batidas, o Twitter oficial da Polícia Federal Belga divulgou uma foto de um pote de ração de gatos com a dedicatória: “Aos gatos que nos ajudaram ontem à noite... sirvam-se!”.


Mas os gatos do #BrusselsLockdown fizeram mais do que impedir o acesso de terroristas a informações sobre as batidas policiais. A iniciativa permitiu que a população mantivesse seu moral, e não fosse tomada pelo terror que pode decorrer de situações de alerta, que retiram dos civis a sensação de normalidade. E, de fato, os belgas se jactaram de combater o terrorismo com surrealismo.


O terrorismo, fenômeno que, apesar de diversas iniciativas de governos e organismos internacionais, ainda é difícil de ser definido, tem como objetivo, evidentemente, a geração de terror. Esse terror, que se infiltra em uma população, pode ser um mecanismo poderoso para influenciar governantes e atores políticos em seu processo de tomada de decisão. E quanto mais atenção é dedicada aos atos terroristas pelos veículos de comunicação, mais o terrorismo se aproxima do seu objetivo: a difusão máxima do pânico.


Por isso os atentados de Paris são tão perniciosos. Seu alcance é imediato e muito intenso, e suas repercussões políticas são evidentes. A morte de 130 pessoas em uma noite de sexta-feira na Cidade Luz é suficiente para infligir em cidadãos, não apenas franceses, mas de muitas nacionalidades, uma sensação de vulnerabilidade e impotência diante do ódio desmedido de um grupo terrorista. Isso contribui, como temos visto na mídia, para o recrudescimento de posições, o aumento da intolerância motivada pelo medo, e a tomada de decisões políticas associadas a contextos de exceção.


Iniciativas como a dos gatos do #BrusselsLockdown ajudam, então, a combater o cerne do terrorismo: o pânico que atos de violência contra civis podem despertar na população. E com risos na internet, o terrorismo pode perder um pouco do seu terror.


Raquel Gontijo é doutoranda em Relações Internacionais no Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisadora do GEDES.

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