Os atentados à Paris e a repercussão na política externa norte-americana
Após os atentados em Paris, no dia 13 de novembro, o posicionamento dos Estados Unidos em relação ao combate do terrorismo segue, a princípio, a mesma estratégia, a despeito das veementes críticas domésticas à atual orientação da política externa norte-americana. Como o momento interno no país é de grande polarização entre Democratas e Republicanos, em razão dos debates para as próximas eleições presidenciais, o discurso da oposição visa atingir a administração Obama em duas principais frentes: primeiro, sob um discurso que reforça estereótipos de segurança nacional, apontam o Partido Democrata como fraco e ineficiente na sua hesitação em mobilizar tropas para solo sírio; em segundo lugar, confrontam a decisão federal e o compromisso pessoal de Obama em oferecer portas abertas para o recebimento de dez mil refugiados. Os governadores representantes do Alabama, Arizona, Arkansas, Flórida, Geórgia, Idaho, Illinois, Indiana, Iowa, Kansas, Louisiana, Maine, Maryland, Massachusetts, Michigan, Mississippi, Nebraska, Nevada, New Hampshire, Nova Jersey, Novo México, Carolina do Norte, Ohio, Oklahoma, Carolina do Sul, Tennessee, Texas e Wisconsin, todos Republicanos, à exceção da Democrata Maggie Hassan de New Hampshire, já se posicionaram contra a oferta de refúgio, afirmando inclusive que estariam dispostos a fechar suas fronteiras caso Obama desse prosseguimento ao plano. Jeb Bush e Marco Rubio, candidatos à presidência também pelo Partido Republicano, sugeriram ainda que os Estados Unidos só aceitassem a entrada de refugiados cristãos. Por ocasião da reunião do G-20 em Antalya, na Turquia, Obama reagiu às críticas apontando ser inadmissível submeter a compaixão norte-americana à testes de religião. Apesar de oferecer todo o apoio à nação francesa, afirmou ainda em seu discurso que não irá colocar tropas norte-americanas em solo sírio pela simples necessidade de reafirmar o poder norte-americano em mais uma aventura intervencionista.
Embora o posicionamento da administração Obama assuma um tom mais sensato em relação a engajamentos alhures – ainda que, quando comparado com seu antecessor, qualquer mínima moderação já aparente ser significativa – a utilização de bombardeios é extremamente questionável do ponto de vista humanitário pelo seu baixo grau de seletividade. Ao atingir tanto alvos militares quanto localidades com população civil, os bombardeios mais contribuem para o aumento do fluxo migratório do que cumprem a estratégia militar de contenção do terrorismo. Dessa forma, permanece um questionamento fundamental sobre a suposta postura mais sensata do governo Obama: seria esse direcionamento de política externa fruto de uma espécie de síndrome pós-traumática da intervenção no Iraque em 2003, em que as pesquisas de opinião nos Estados Unidos apontam uma população relutante a novas mobilizações militares, ou, em contrapartida, seria resultado de uma maior consciência democrata acerca da banalização no uso de recursos militares. Por hora, a trajetória política dos Estados Unidos nos sugere sustentar a primeira opção.
Bárbara Motta é doutaranda em Relações Internacionais no Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisadora do GEDES.