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Os atentados de 13 de novembro à Paris: possíveis consequências

Os discursos de François Hollande em resposta aos atentados terroristas de 13 de novembro que atingiram Paris clamam pela necessidade de unidade nacional e de medidas emergenciais e excepcionais para combater a “ameaça existencial” que tem sido representada pelo Estado Islâmico. Após os atentados, o governo francês determinou o estado de emergência, fechou as fronteiras, limitou a circulação de pessoas na região da Île-de-France e definiu a ação dos terroristas como um ato de guerra. Tal situação remete à teoria de securitização, no sentido em que há um movimento discursivo pela adoção de ações excepcionais para responder a uma ameaça à Nação. Faz lembrar também da resposta aos atentados terroristas de setembro de 2001 às Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova York, os quais levaram à militarização da Política Externa dos Estados Unidos e ao início da “guerra ao terror”.


Tal situação faz refletir sobre as possíveis decisões políticas que serão tomadas em razão do atentado em Paris e que podem levar a consequências com elevados custos humanitários. Assim como em 2001, o principal risco é de aumento da islamofobia e de uma leitura simplista e estereotipada, que passa a entender o terrorismo internacional como causado pela religião islâmica. Essa leitura remete a um suposto “choque de civilizações”, entre um Ocidente pacífico e um mundo islâmico, pouco democrático e adepto à violência. Em tal narrativa, a Política Externa militarizada dos Estados Unidos e sua ação no Iraque e no Afeganistão, assim como o passado de colonialismo e imperialismo europeu, não entram na equação. O terrorismo torna-se uma questão de cultura e não uma ação política, que se desenvolveu, entre outros aspectos, como uma resposta à utilização da força pelo Ocidente.


Os atentados terroristas são injustificáveis e a França, que foi a grande vítima em 13 de novembro, merece ser objeto de solidariedade internacional. Contudo, tal situação não é específica da Franca, pois o poder do Estado Islâmico é sentido de maneira nefasta no Oriente Médio, especialmente na Síria, há tempos. Nesse sentido, é possível destacar também o atentado no Quênia, de abril de 2015, o qual, teve como consequência a morte de 147 pessoas e infelizmente não gerou a mesma repercussão e demonstração de solidariedade internacional. Uma resposta internacional adequada não deveria ser seletiva e muito menos exaltar a narrativa de que o terrorismo internacional exerce seu nefasto poder principalmente sobre o mundo Ocidental. Em verdade, os refugiados árabes que buscam abrigo na Europa, em sua maioria, são pessoas que fogem do fortalecimento de grupos como o EI.


O movimento de securitização pode levar à militarização, fechamento de fronteiras e ter a grave consequência de impactar negativamente na vida de civis de religião islâmica e nacionalidade síria, libanesa, ou egípcia que buscam refúgio na Europa. Estas, assim como os parisienses foram em 13 de novembro, são as grandes vítimas da radicalização de grupos armados que se utilizam de técnicas terroristas, a exemplo do Estado Islâmico. Uma resposta adequada e uma solução à situação que se vive atualmente não é simples, contudo, o aumento da violência e o fechamento das fronteiras não parecem ser os meios mais adequados, uma vez que tais ações podem ter o resultado não consciente de aumentar o ódio da outra parte e, consequentemente, seu radicalismo. As repostas do Ocidente a um acontecimento como esse devem ser cautelosas, para evitar um ciclo vicioso, no qual o principal efeito da violência é gerar ainda mais violência. Nesse sentido, a questão não pode se enquadrar em uma concepção simplificada sobre o outro, mas deve ser objeto de um esforço de reflexão sobre as ações passadas e de busca de entendimento sobre a alteridade.


Lívia Peres Milani é mestranda em Relações Internacionais no Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisadora do GEDES.

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