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Por que Israel está apoiando os curdos?

O Oriente Médio inventado por potências coloniais britânicas e francesas há quase um século tem se dissolvido rapidamente com o avanço do Estado Islâmico. As fronteiras artificiais, criadas em meio à Primeira Guerra Mundial, através do acordo Sykes-Picot (1916), estão em risco; e não é por acaso, o Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS), apesar de sonhar com um Califado, está enfatizando as mudanças das fronteiras na região. Aqueles Estados esculpidos no fragmentado Império Otomano estão todos em risco.


Neste turbilhão geopolítico se delineia a noção de um Grande Curdistão. Essa análise poderia ter sido feita por qualquer estudioso da região, mas foi feita pelo Ministro das Relações Exteriores de Israel, Avigdor Lieberman. O que Lieberman disse ao Secretário de Estado norte-americano, John Kerry, em 2014, diz respeito principalmente ao Governo Regional do Curdistão do Iraque (KRG), uma região autônoma que também é exportadora de petróleo para Israel.


O entusiasmo de Israel em cooperar com os curdos e o interesse em reforçar as capacidades econômicas e militares do Curdistão iraquiano está em permitir que o governo em Erbil (capital do Curdistão) fixe os termos e condições que irão ajudá-lo a declarar sua independência de Bagdá. Nenhum outro país, além de Israel, mostra tanto entusiasmo para o conceito de transformar a região em um Estado; incluindo o lançamento de campanhas políticas e diplomáticas em meios de comunicação destinados a assegurar o reconhecimento internacional da independência do Curdistão do Iraque.


Foi o Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que anunciou o apoio de Israel em 2014 para a aspiração do povo curdo em alcançar a autodeterminação e para estabelecer seu Estado independente. Por causa da boa relação de Shimon Peres (ex-presidente de Israel) com o presidente dos EUA, Barack Obama, que Netanyahu o instruiu a tentar influenciar Washington a anunciar o seu apoio explícito para a independência da região curda.


Israel estaria apostando sobre o papel a ser desempenhado pelo futuro Estado curdo na criação de uma profunda mudança no ambiente estratégico e regional do Oriente Médio em relação ao Estado judeu. A lógica em jogo é que um Estado curdo ao norte do Iraque será o núcleo de um futuro Estado curdo maior que mais tarde pode anexar os territórios curdos na Síria, Turquia e Irã.


O Estado Curdo terá uma parceria estratégica com Israel, reduzindo assim o isolamento deste último e aumentando a sua margem de manobra em termos de influência em toda a região. O anúncio de um tal Estado poderia reduzir o risco de um "front oriental" ao longo do qual Israel poderia ser atacado.


Um grande Estado curdo iria garantir os interesses israelenses na Síria, assim como o conflito que está em curso no país. A divisão da Síria em cantões étnicos e sectários, com os curdos cedendo ao Curdistão, seria um resultado favorável a Israel, diminuindo a ameaça que a Síria representaria para a hegemonia israelense. Essa conquista pode ser ainda maior para Israel em caso de um consenso regional sobre a criação de um pequeno Estado alauita na costa síria.


Sendo assim, os estrategistas israelenses pensam que só têm a ganhar com a criação de um Estado curdo na região. Mudaria os arranjos de poder regionais além de enfraquecer o Estado Islâmico e criar uma zona tampão entre este e Israel. Entretanto só o tempo irá dizer se as expectativas israelenses irão se realizar ou não.


Karina Clandrin é mestranda em Relações Internacionais no Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisadora do GEDES.

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