Coreia do Norte: entre o diálogo e a força
A Coreia do Norte voltou à atenção internacional na última semana, com as celebrações do 70º aniversário do Partido dos Trabalhadores da Coreia, que governa o país desde a guerra de 1950-1953. A comemoração se centrou em uma parada militar, que serviu para ostentar os tanques, a artilharia e os mísseis norte-coreanos, em uma demonstração de força cuja mensagem tinha destinatário anacronicamente claro: os Estados Unidos.
Um país ainda oficialmente em guerra, a Coreia do Norte é uma marca negativa para a capacidade do sistema internacional de solucionar suas tensões através do diálogo. Desde 2003, quando a Coreia do Norte se retirou do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), diversas rodadas de negociações foram realizadas, envolvendo os Estados Unidos, a China, o Japão, a Rússia e, claro, a Coreia do Sul. Essas negociações, no entanto, tiveram resultados muito menos que satisfatórios.
Desde então, a Coreia do Norte continuou a avançar em suas pretensões nucleares, à revelia de pressões internacionais e a despeito das privações impostas à população. O país já realizou três testes nucleares, com intensidades estimadas crescentes (em 2006, 2009 e 2013). Paralelamente, o país tem progredido em seu programa para produção de mísseis balísticos e está desenvolvendo um míssil que teria alcance de aproximadamente 6000 km, (o que seria suficiente para atingir todo o território da Coreia do Sul, da China e do Japão, e regiões da Rússia e dos Estados Unidos). Após dois testes com resultados negativos, a Coreia do Norte conseguiu, em 2012, colocar um satélite em órbita de forma bem-sucedida.
Apesar de a maioria desses testes terem ficado aquém das expectativas militares norte-coreanas, e ainda que seja duvidável sua capacidade de desenvolver armamentos nucleares pequenos o suficiente para serem transportados por mísseis, ou mísseis avançados o suficiente para terem alguma precisão em sua entrega, o fato é que sua capacidade nuclear continua a aumentar.
De fato, a Coreia do Norte anunciou, recentemente, a reabertura das instalações de Yongbyon, uma das mais importantes de seu programa nuclear, onde foi produzido o material físsil utilizado nas bombas testadas em 2006 e 2009. As atividades em Yongbyon haviam sido interrompidas em 2007, como resultado de negociações para receber auxílio internacional em troca de medidas de desarmamento. Sua reabertura constitui, portanto, mais uma mácula para os resultados da diplomacia.
Todo este histórico demonstra a fragilidade das negociações internacionais como forma de conter um país com intenções nucleares reais. A Coreia do Norte é, sem dúvida, um caso muito específico, devido ao seu elevado grau de isolamento e a suas características internas de intensa centralização do poder. Mas, de qualquer forma, seu histórico merece inegável atenção internacional, para que os erros do passado não sejam repetidos, e para que iniciativas futuras de combate à proliferação sejam mais afortunadas.
Raquel Gontijo é doutoranda em Relações Internacionais no Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisadora do GEDES.