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O que Putin Ganha Intervindo na Síria?

A política é cheia de ironias. Putin afirmar que sua intervenção militar na Síria visa combater a ameaça terrorista do Estado Islâmico é quase um chiste. Principalmente porque desde que começou sua campanha aérea, a maioria dos ataques foram direcionados aos opositores de Assad apoiados pelos EUA. É usar o discurso norte-americano para contraria-los. Acidez cômica à parte, há ganhos políticos interessantes ao Kremlin na intervenção. Um primeiro deles é sair do isolamento diplomático ao qual foi relegado após a anexação da Criméia. A intervenção militar russa compõe o discurso de que seu envolvimento é necessário para resolver o conflito. Garante, manu militari, lugar à mesa.


Putin não é um tolo. É esperado que Assad eventualmente caia. O presidente sírio utilizou bombas barril e armas químicas em áreas densamente ocupadas por civis. Isso – assim se espera – não lhe dará sossego na eventualidade do fim do conflito. Resta saber como e quando cairá. Assim, Putin não espera salvar Assad. O objetivo é enviar a mensagem de que Moscou não deixa os seus sem amparo e, principalmente, garantir influência no processo de sucessão. Ademais, intervir por Assad fomenta uma aproximação, mesmo que ad hoc, com o Irã. O regime islâmico tem o governo alawita de Assad como um importante aliado.


A postura mais assertiva de Moscou não se limita à Síria nem à Criméia. Já em 2008, na agressão à Geórgia, Putin deixou claro que não toleraria a expansão da influência ocidental em seu entorno estratégico. Desde então, Putin parece vir aproveitando a “paciência estratégica” de Washington para testar os limites de Obama. Até o momento, tem sido bem-sucedido; não só manejou anexar a Criméia, mas também ensaiar uma projeção ao Oriente Médio. Nesse contexto, manter a Síria próxima é chave.


Contudo, as consequências da intervenção não são promissoras. Espera-se que com o envolvimento russo, haja um escalonamento do conflito. Em decorrência da deterioração da situação, o fluxo de solicitantes a refúgio rumo à Europa tenderá a aumentar. O cenário é complicado para os europeus, que se debatem na patente falta de coordenação política, e assistem à ascensão de movimentos ultraconservadores e xenófobos. Porém, é favorável a Putin, que tem um bom relacionamento com esses mesmos grupos. Na medida em que a ultradireita ganha projeção política, Putin se fortalece na Europa. Soma-se a isso Israel. Mais distante dos Estados Unidos, Netanyahu foi a Moscou conversar com Putin e pedir garantias de que as armas por ele fornecidas a Assad não caiam nas mãos do Hezbollah, no Líbano. Avizinhado por um Irã fortalecido e com claras intenções de se projetar de modo mais assertivo na região – vide o envolvimento no Iêmen – e pelo Estado Islâmico, a percepção de ameaça de Israel, justificada ou não, é um fator a se considerar.


Ao final, a quem importa, pouco importa se é Putin, Obama, Salman Al Saud ou Netanyahu. Bombas ainda caem.


Diego Lopes é doutorando em Relações Internacionais no Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisador do GEDES.

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